26-02-2007 10:29
Adalberto Andrade - Escritor
E na década de 60 o movimento feminista invadiu a Europa e os Estados Unidos buscando novos horizontes, queimando sutiãs em praça pública em protesto a antigos padrões sociais, e desde então o universo masculino nunca mais foi o mesmo. No Brasil, a revolução só tomou fôlego de fato na década seguinte. Com a popularização da pílula, a mulher viu-se livre de uma gravidez indesejada e promoveu o maior banquete sexual da história da humanidade. Milhões de mulheres livres e emancipadas em todo o mundo saíram propagando o amor livre e buscando em cada relação sexual o máximo de prazer, até encontrar o tão sonhado orgasmo, um direito que até então lhe fora negado. Nos anos 80, foi a vez das mulheres fazerem de nós homens-objeto. Ainda no embalo e no clima criado pelos bacanais dos anos 70, o novo mercado apresentava agora lindas mulheres descasadas, independentes, disponíveis e sedentas de vingança. Com ideologia feminista lançaram a 'amizade colorida', que nada mais era do que uma desforra secular do papel de mulher-objeto a que sempre foi submetida. Esse modelo de relação perdeu o seu pique em meados dos anos 80 em razão do aparecimento da AIDS. Mas como dizia o cantor e poeta Cazuza, o tempo não para. Mudanças significativas de comportamento ocorrem no mundo a todo instante. Os valores que norteiam as relações afetivas e sexuais na esfera social há muito não são mais os mesmos. Mas confesso que tanta modernidade, às vezes me assusta. Antigos costumes deram lugar a novos conceitos que exigem de todos nós uma reflexão.
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Faço essa breve introdução para melhor me expressar sobre a mais nova onda do momento: o poliamor. Os adeptos do movimento defendem a idéia de que é possível, natural e até saudável amar e ser amado por duas ou mais pessoas simultaneamente.
Faço essa breve introdução para melhor me expressar sobre a mais nova onda do momento: o poliamor. Os adeptos do movimento defendem a idéia de que é possível, natural e até saudável amar e ser amado por duas ou mais pessoas simultaneamente.
No meu ponto de vista não passa de uma versão repaginada do sexo livre que serviu de bandeira para muitos casais que viveram a moda do casamento aberto, achando que estavam salvando a relação ao abrir a possibilidade de transar com outras pessoas. A nova fórmula de relacionamento amoroso, que surgiu nos Estados Unidos, tem parentesco com alguns movimentos de libertação sexual, mas difere substancialmente da queima de sutiãs, do casamento aberto, do ménage a trois e do swing porque o centro da questão passa a ser o amor, não o sexo. A pluralidade de parceiros estáveis, o envolvimento emocional e o sexo sem as implicações de exclusividade não deixam espaço para crise existencial ou de ciúmes. A felicidade do marido ou da esposa é saber que a pessoa que ama está contente e sendo bem cuidada por alguém. Assim pensam os poliamoristas.
Para o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, 86 anos, que viveu a experiência do casamento aberto, em entrevista a Revista IstoÉ (1930-18/10/2006), diz: 'Namorar outras pessoas pode favorecer o casamento, sim. Ninguém pode proibir uma pessoa de se apaixonar. Um dos fatores que mais geram rancor entre casados é o fato de um tolher a liberdade do outro. Por esse motivo, ás vezes o ódio e o tédio são mais fortes do que o amor. Na casamento aberto também há sofrimento, mas é melhor se sentir triste por querer estar com sua mulher quando ela está com outro do que ser obrigado a conviver com uma megera'.
Nos anos dourados, na chamada relação aberta era comum os parceiros contarem um ao outro suas aventuras sexuais, até que descobriram que não há quem resista contar tudo o tempo todo. Machucava demais. Depois de algum tempo, as infidelidades eram propositais, como uma espécie de vingança. Se um tinha seus casos, o outro arranjava três vezes mais. Ironicamente, foi por causa das traições que o casamento de muitos terminou.
Hoje sabemos que a liberação sexual promovida pelos movimentos feministas dos anos 60 e 70 em nada contribuiu para melhorar as relações. Pelo contrário, além de promover uma inversão de valores, novos conflitos foram gerados. A mulher levou quase trinta anos para descobrir que o amor livre que ela tanto propagou nos anos 70 e a 'amizade colorida' defendida nos anos 80, só concorreram para tornar as relações mais descartáveis ainda. São por essas e outras, que ainda hoje, para muitos, o casamento já começa com prazo de validade vencido.
Nú
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